Você já se sentiu exausto após uma semana intensa de trabalho? A sensação de cansaço extremo, a falta de motivação e a dificuldade de concentração são sinais que o corpo e a mente enviam para alertar sobre o excesso de trabalho.
No mundo atual, a busca incessante por produtividade pode levar ao descuido com o bem-estar, resultando em sérias consequências para a saúde física, mental e para a vida pessoal.
O Contexto do Excesso de Trabalho no Japão
Historicamente, o Japão desenvolveu uma cultura corporativa baseada na dedicação extrema. Por décadas, os trabalhadores japoneses se destacaram por assumir longas jornadas, mesmo que isso implicasse sacrificar a saúde e a vida pessoal.
A cultura de trabalho no Japão tem raízes profundas em valores históricos e sociais. Após o período pós-guerra, o esforço coletivo e a busca pelo crescimento econômico criaram ambientes onde a lealdade à empresa era demonstrada através de um comprometimento total com as horas trabalhadas. Com o tempo, porém, os efeitos negativos dessa dedicação excessiva ficaram evidentes.
Aspectos Culturais e Históricos – Karoshi
Karoshi é um termo japonês que significa “morte por excesso de trabalho”. Surgiu no Japão na década de 1970, quando casos de trabalhadores morrendo devido a jornadas exaustivas começaram a ser noticiados. As principais causas são ataques cardíacos, derrames e outros problemas relacionados ao estresse extremo.
Muitos funcionários chegam a trabalhar mais de 60 horas por semana, sem descanso adequado. Além do Japão, países como Coreia do Sul e China também enfrentam problemas semelhantes.
Para combater o karoshi, governos e empresas implementaram medidas como limites de horas extras e incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Mesmo assim, muitos trabalhadores ainda sofrem com sobrecarga. O karoshi levanta debates sobre saúde mental e a necessidade de melhores condições de trabalho.
Dados da pesquisa realizada pela Nippon mostram que em 2023, o número total de horas trabalhadas por trabalhador foi de 1.636 ao ano, um aumento de 3 horas em relação ao ano anterior. Nos anos 1990, esse número era de aproximadamente 1.900, mas, apesar da queda ao longo do tempo, tem se estabilizado recentemente.
Para trabalhadores em tempo integral, a média anual foi de 1.962 horas, permanecendo abaixo de 2.000 pelo quinto ano consecutivo. Já para trabalhadores de meio período, o total foi de 952 horas, também abaixo de 1.000 pelo quinto ano seguido.
Entre os empregados que trabalham mais de 40 horas por semana, 8,4% fizeram muitas horas extras, ultrapassando 60 horas semanais, uma queda de 0,5 ponto percentual em relação ao ano anterior. O setor com a maior taxa de jornadas acima de 60 horas foi o de transporte e serviços postais, com 18,5%.

Os Riscos para a Saúde do Excesso de Trabalho
Trabalhar horas excessivas pode causar problemas sérios. Primeiramente, há o risco de esgotamento físico e mental, pois jornadas prolongadas estão associadas a níveis elevados de estresse, distúrbios do sono e problemas cardíacos. Além disso, a pressão constante para atingir metas sem tempo adequado para descanso pode levar a quadros de depressão e ansiedade. Portanto, estabelecer um limite saudável de horas de trabalho é fundamental para evitar consequências graves.
Movimentos Globais pela Redução da Jornada
Recentemente, movimentos que lutam pela redução da carga horária ganharam força em vários países. No Brasil, por exemplo, a campanha contra o modelo 6×1 – em que o trabalhador labora seis dias e descansa um – defende uma divisão mais justa do tempo entre trabalho e vida pessoal. Essa iniciativa propõe que o descanso adequado pode aumentar a produtividade e reduzir problemas de saúde, demonstrando a importância de repensar o modelo atual.
Desafios e Lições do Japão para o Mundo
Transformar uma cultura enraizada não é tarefa fácil. No Japão, apesar do reconhecimento dos efeitos negativos do excesso de trabalho, implementar mudanças profundas esbarra em resistências históricas e estruturais.
Tanto a administração pública quanto as empresas precisam desenvolver estratégias que incentivem a adoção de práticas mais saudáveis, como a flexibilização de horários e o incentivo à realização de atividades que promovam o bem-estar.
A experiência japonesa serve de alerta para outras nações. Mesmo com sua economia avançada, o Japão começou a sentir os efeitos deletérios do trabalho excessivo.
As iniciativas internas para reduzir a jornada e promover uma cultura de trabalho mais equilibrada mostram que a transformação é possível, embora lenta e desafiadora. Essa mudança envolve não só alterações nas políticas corporativas, mas também uma transformação cultural que valorize o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
O Trabalho Remoto e o Excesso de Trabalho
A adoção do trabalho remoto, intensificada durante a pandemia, trouxe benefícios como flexibilidade e redução do tempo de deslocamento. No entanto, o home office também pode dificultar a separação entre o tempo de trabalho e o pessoal.
Sem a estrutura de um escritório com horários definidos, muitos profissionais acabam trabalhando mais do que o necessário, o que agrava a exaustão pelo excesso de trabalho.
Para evitar essa distorção do tempo, é fundamental estabelecer limites claros, definindo horários fixos e pausas regulares. Essa prática ajuda a manter o equilíbrio entre as responsabilidades profissionais e o tempo para descanso, reduzindo o risco de sobrecarga.
Repensando o Modelo de Trabalho
Repensar o modelo de trabalho atual é essencial para preservar a saúde dos trabalhadores e garantir uma produtividade sustentável. Seja através do estabelecimento de limites claros ou da implementação de programas de bem-estar, é possível criar um ambiente mais saudável.
A pesquisa da Nippon reforça que a redução da jornada pode diminuir significativamente os casos de estresse, melhorar a qualidade do sono e prevenir doenças relacionadas ao excesso de trabalho.
Mesmo que a redução da carga horária enfrente desafios culturais e estruturais, os benefícios para a saúde e a qualidade de vida são evidentes.
Gostou do conteúdo?
Compartilhe sua opinião abaixo!
